Educação
e Trabalho: Considerando o contexto histórico e social da modernidade, a partir
do século XIX, qual a relação existente entre essas categorias?
Objetivando
estabelecer uma relação entre educação e trabalho Mascarenhas (2005) compreende
que, o que tem ocorrido no sistema educacional é a submissão do mesmo à lógica
do mercado capitalista. Os sistemas educacionais são organizados e moldados em seus
princípios e objetivos pautados nos modelos de produção industrial, atuando
desta maneira na formação de pessoas que estejam aptas ao mercado de trabalho e
ao mercado consumidor.
Segundo
Santomé (1998) entre 1856 e 1915 Frederick Taylor criou um conjunto de medidas
com o intuito de economizar o tempo gasto pelos trabalhadores na produção, aumentando
a produtividade e reduzindo a autonomia dos trabalhadores, por meio da
racionalização e divisão do trabalho, e do treino do trabalhador em uma única
função. Em 1913, Henry Ford organizou em
sua fábrica de automóveis a linha de montagem, produção em série, a montagem e
seu ritmo eram controlados pela velocidade da esteira, sendo o trabalho
fracionado e o trabalhador treinado para uma função determinada. Neste período,
a educação pautava seus ensinamentos na técnica industrial com o objetivo de
preparar os indivíduos para esse tipo de trabalho.
Em
decorrência da crise capitalista em 1929, John Mayanard Keynes defendeu a
intervenção do Estado nas empresas privadas, investindo recursos públicos para
recuperar as mesmas da crise, salvando o emprego dos trabalhadores e garantindo
certa estabilidade econômica. O mais recente modelo de produção era o da fábrica
japonesa Toyota, que surge como alternativa para a crise do sistema
Taylorista-Fordista, que teve como consequência a grande quantidade de peças
defeituosas e de baixa qualidade. O toyotismo é baseado em uma produção
polivalente e flexível, com os trabalhadores, atuando em todos os setores de
trabalho, em equipe. Em consequência deste modo de produção a educação se
destacou pelo discurso de autonomia do aluno, da escola, na flexibilidade,
estratégias, destrezas e saberes voltados à formação e preparação de
competências, habilidades e técnicas para o trabalho fabril.
Segundo
Cleide Rodrigues e Dulce Almeida no decorrer do tempo a educação tem se
submetido a formar pessoas com destrezas e capacidades que atendam aos modelos
de produção industrial e à ideologia política baseado no capital econômico. No
Brasil, entre 1889 a 1937, em decorrência da industrialização o sistema
educacional era utilizado como instrumento de preparação dos trabalhadores para
o ofício nas indústrias, predominando o ensino primário
técnico-profissionalizante. Na sociedade existia o êxodo rural e o trabalho era
voltado à técnica empregada na produção industrial.
Nos
períodos de 1937 a 1979 a educação era voltada ao ensino profissionalizante
para as camadas populares com a difusão da ideologia dominante por meio das
disciplinas cívicas, cujo objetivo era a conservação do sistema capitalista e o
predomínio do trabalho industrial. De 1979 a 1990 inicia-se a busca por
educação de qualidade, ou seja, uma educação crítica para uma possível
transformação social, o trabalho e a economia perpassava por um período de
crise, dívidas, inflação e desemprego.
No
final do século XX e início do século XXI a educação passa por uma
reorganização que traz a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, com várias
siglas e projetos, dentre eles: Educação Infantil; Educação de Jovens e Adultos;
Inclusão; Educação a Distância; Programa Universidade para Todos; Exame
Nacional de Desenvolvimento do Estudante; Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica; Projeto Político Pedagógico; Exame Nacional do Ensino Médio; Tecnologias
da Informação e Comunicação; Ciclos de Formação Humana; Gestão Democrática;
Formação Continuada; Interdisciplinaridade e Sócio-construtivismo. No trabalho
a amplitude de serviços voltados às tecnologias da informação e comunicação.
Assim, a escola como retrata Tonucci (1997),
na ilustração “A grande máquina escolar” é transfigurada em uma máquina, que
introduz os conhecimentos necessários no sujeito com o objetivo de formar trabalhadores
aptos a atuarem no mercado de produção capitalista, garantindo assim, o pleno
funcionamento da sociedade capitalista. Em um processo seletivo, pois seleciona
os homens pelas destrezas apreendidas durante sua escolarização, e excludente
ao passo que exclui do mercado de trabalho competitivo aqueles que não conseguiram
apreender os saberes necessários para tal competitividade. Assim, o produto
final desta formação escolar é um contingente de indivíduos igualmente
qualificados ao trabalho e à manutenção das desigualdades de classes
características deste sistema.
Segundo
Mascarenhas (2005), na concepção marxiana, trabalho é ação produtora “... ação
criadora por meio da qual o homem estabelece relações com a natureza e com os
outros homens” (p. 162): Sendo, portanto, elemento responsável para a
sociabilidade, é por meio da educação e do trabalho que o homem se torna homem.
Para Paro (1999) o homem se faz pelo trabalho e pela sua divisão social, que o
coloca em contato com os outros componentes da sociedade, no entanto neste
modelo de produção vigente, o trabalho é alienado, pois seu produto pertence ao
outro, ao dono dos meios de produção, ficando o trabalhador subordinado às
regras preestabelecidas pelo mercado. Sua estrutura principal é a exploração do
homem pelo homem, pois ao vender sua força de trabalho, ao não ser o dono das
ferramentas do seu trabalho, nem tampouco ser possuidor do produto de seu
trabalho, o homem se torna uma mercadoria na mão do outro. “Essa separação
entre o trabalhador e o produto de seu trabalho, provoca uma cisão no próprio
homem pois, como vimos, o que ele produz constitui parte de sua humanidade...”
(PARO, 1999, p.19).
Comumente
pensa-se que a educação ocorre de maneira natural, no entanto a mesma trata-se
de uma “criação humana” cujo objetivo é superar a diferença entre nosso
conhecimento natural, “... o que conhecemos ao nascer” (PARO, 1999, p. 21) e o
saber produzido pela humanidade desde sua gênese. A educação é a responsável
por tornar possível ao indivíduo apropriar-se deste saber histórico produzido
pela humanidade com o objetivo de “... prover os indivíduos de elementos
culturais necessários para viver na sociedade a que pertence” (PARO, 1999,
p.21).
A
escola assume duas responsabilidades sociais, a atualização histórica do
indivíduo, sua formação cidadã e a preparação do mesmo para atuar de maneira
satisfatória, atendendo às exigências do mundo do trabalho. Um trabalho, sem o
qual o homem não sobrevive, uma sobrevivência que o torna explorado, submetido
ao interesse de poucos. Diante desses aspectos, a principal preocupação do
homem submetido ao mercado capitalista, é de estar preparado e apto a atuar no
mercado de trabalho. Preparação esta que é imposta pelo sistema com o apoio da
escola que se submete aos ordenamentos da estrutura social.
Referências:
MASCARENHAS,
Angela Bélem (org.). Educação e Trabalho
na Sociedade Capitalista: reprodução e contraposição. Goiânia: Editora da
UCG, 2005, p. 161-163.
PARO,
Vitor Henrique. Parem de preparar para o trabalho!!! Reflexões acerca dos
efeitos do neoliberalismo sobre gestão e o papel da escola básica. In:
FERRETTI, Celso João et alii; orgs. Trabalho,
formação e currículo: para onde vai a escola. São Paulo, Xamã, 1999. p.
101-120.
SANTOMÉ,
Jurjo Torres. Globalização e
Interdisciplinaridade. O Currículo Integrado. Porto Alegre, RS: Artes
Médicas, 1998, p. 8-12.
TONUCCI,
Francesco. Com os olhos de criança.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 100-101.
Roselaine Monteiro dos Santos.
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