quinta-feira, 4 de julho de 2013

EDUCAÇÃO E TRABALHO



Educação e Trabalho: Considerando o contexto histórico e social da modernidade, a partir do século XIX, qual a relação existente entre essas categorias?
Objetivando estabelecer uma relação entre educação e trabalho Mascarenhas (2005) compreende que, o que tem ocorrido no sistema educacional é a submissão do mesmo à lógica do mercado capitalista. Os sistemas educacionais são organizados e moldados em seus princípios e objetivos pautados nos modelos de produção industrial, atuando desta maneira na formação de pessoas que estejam aptas ao mercado de trabalho e ao mercado consumidor.
Segundo Santomé (1998) entre 1856 e 1915 Frederick Taylor criou um conjunto de medidas com o intuito de economizar o tempo gasto pelos trabalhadores na produção, aumentando a produtividade e reduzindo a autonomia dos trabalhadores, por meio da racionalização e divisão do trabalho, e do treino do trabalhador em uma única função.  Em 1913, Henry Ford organizou em sua fábrica de automóveis a linha de montagem, produção em série, a montagem e seu ritmo eram controlados pela velocidade da esteira, sendo o trabalho fracionado e o trabalhador treinado para uma função determinada. Neste período, a educação pautava seus ensinamentos na técnica industrial com o objetivo de preparar os indivíduos para esse tipo de trabalho.
Em decorrência da crise capitalista em 1929, John Mayanard Keynes defendeu a intervenção do Estado nas empresas privadas, investindo recursos públicos para recuperar as mesmas da crise, salvando o emprego dos trabalhadores e garantindo certa estabilidade econômica. O mais recente modelo de produção era o da fábrica japonesa Toyota, que surge como alternativa para a crise do sistema Taylorista-Fordista, que teve como consequência a grande quantidade de peças defeituosas e de baixa qualidade. O toyotismo é baseado em uma produção polivalente e flexível, com os trabalhadores, atuando em todos os setores de trabalho, em equipe. Em consequência deste modo de produção a educação se destacou pelo discurso de autonomia do aluno, da escola, na flexibilidade, estratégias, destrezas e saberes voltados à formação e preparação de competências, habilidades e técnicas para o trabalho fabril.
Segundo Cleide Rodrigues e Dulce Almeida no decorrer do tempo a educação tem se submetido a formar pessoas com destrezas e capacidades que atendam aos modelos de produção industrial e à ideologia política baseado no capital econômico. No Brasil, entre 1889 a 1937, em decorrência da industrialização o sistema educacional era utilizado como instrumento de preparação dos trabalhadores para o ofício nas indústrias, predominando o ensino primário técnico-profissionalizante. Na sociedade existia o êxodo rural e o trabalho era voltado à técnica empregada na produção industrial.
Nos períodos de 1937 a 1979 a educação era voltada ao ensino profissionalizante para as camadas populares com a difusão da ideologia dominante por meio das disciplinas cívicas, cujo objetivo era a conservação do sistema capitalista e o predomínio do trabalho industrial. De 1979 a 1990 inicia-se a busca por educação de qualidade, ou seja, uma educação crítica para uma possível transformação social, o trabalho e a economia perpassava por um período de crise, dívidas, inflação e desemprego.
No final do século XX e início do século XXI a educação passa por uma reorganização que traz a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, com várias siglas e projetos, dentre eles: Educação Infantil; Educação de Jovens e Adultos; Inclusão; Educação a Distância; Programa Universidade para Todos; Exame Nacional de Desenvolvimento do Estudante; Índice de Desenvolvimento da Educação Básica; Projeto Político Pedagógico; Exame Nacional do Ensino Médio; Tecnologias da Informação e Comunicação; Ciclos de Formação Humana; Gestão Democrática; Formação Continuada; Interdisciplinaridade e Sócio-construtivismo. No trabalho a amplitude de serviços voltados às tecnologias da informação e comunicação.
 Assim, a escola como retrata Tonucci (1997), na ilustração “A grande máquina escolar” é transfigurada em uma máquina, que introduz os conhecimentos necessários no sujeito com o objetivo de formar trabalhadores aptos a atuarem no mercado de produção capitalista, garantindo assim, o pleno funcionamento da sociedade capitalista. Em um processo seletivo, pois seleciona os homens pelas destrezas apreendidas durante sua escolarização, e excludente ao passo que exclui do mercado de trabalho competitivo aqueles que não conseguiram apreender os saberes necessários para tal competitividade. Assim, o produto final desta formação escolar é um contingente de indivíduos igualmente qualificados ao trabalho e à manutenção das desigualdades de classes características deste sistema.
Segundo Mascarenhas (2005), na concepção marxiana, trabalho é ação produtora “... ação criadora por meio da qual o homem estabelece relações com a natureza e com os outros homens” (p. 162): Sendo, portanto, elemento responsável para a sociabilidade, é por meio da educação e do trabalho que o homem se torna homem. Para Paro (1999) o homem se faz pelo trabalho e pela sua divisão social, que o coloca em contato com os outros componentes da sociedade, no entanto neste modelo de produção vigente, o trabalho é alienado, pois seu produto pertence ao outro, ao dono dos meios de produção, ficando o trabalhador subordinado às regras preestabelecidas pelo mercado. Sua estrutura principal é a exploração do homem pelo homem, pois ao vender sua força de trabalho, ao não ser o dono das ferramentas do seu trabalho, nem tampouco ser possuidor do produto de seu trabalho, o homem se torna uma mercadoria na mão do outro. “Essa separação entre o trabalhador e o produto de seu trabalho, provoca uma cisão no próprio homem pois, como vimos, o que ele produz constitui parte de sua humanidade...” (PARO, 1999, p.19).
Comumente pensa-se que a educação ocorre de maneira natural, no entanto a mesma trata-se de uma “criação humana” cujo objetivo é superar a diferença entre nosso conhecimento natural, “... o que conhecemos ao nascer” (PARO, 1999, p. 21) e o saber produzido pela humanidade desde sua gênese. A educação é a responsável por tornar possível ao indivíduo apropriar-se deste saber histórico produzido pela humanidade com o objetivo de “... prover os indivíduos de elementos culturais necessários para viver na sociedade a que pertence” (PARO, 1999, p.21).
A escola assume duas responsabilidades sociais, a atualização histórica do indivíduo, sua formação cidadã e a preparação do mesmo para atuar de maneira satisfatória, atendendo às exigências do mundo do trabalho. Um trabalho, sem o qual o homem não sobrevive, uma sobrevivência que o torna explorado, submetido ao interesse de poucos. Diante desses aspectos, a principal preocupação do homem submetido ao mercado capitalista, é de estar preparado e apto a atuar no mercado de trabalho. Preparação esta que é imposta pelo sistema com o apoio da escola que se submete aos ordenamentos da estrutura social. 


Referências:
MASCARENHAS, Angela Bélem (org.). Educação e Trabalho na Sociedade Capitalista: reprodução e contraposição. Goiânia: Editora da UCG, 2005, p. 161-163.
PARO, Vitor Henrique. Parem de preparar para o trabalho!!! Reflexões acerca dos efeitos do neoliberalismo sobre gestão e o papel da escola básica. In: FERRETTI, Celso João et alii; orgs. Trabalho, formação e currículo: para onde vai a escola. São Paulo, Xamã, 1999. p. 101-120.
SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e Interdisciplinaridade. O Currículo Integrado. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1998, p. 8-12.
TONUCCI, Francesco. Com os olhos de criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 100-101.

Roselaine Monteiro dos Santos.

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