quinta-feira, 4 de julho de 2013

A EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE PERANTE AS TRANSFORMAÇÕES TÉCNICO-CIENTÍFICAS, ECONÔMICAS E POLÍTICAS.



A contemporaneidade está sendo marcada pelas constantes transformações técnico-científicas, denominadas também de Terceira Revolução Industrial. Libâneo (2003) afirma que as mudanças econômicas, sociais, políticas, culturais e educacionais são consequências da grande aceleração das transformações técnico-científicas.
Ciência e tecnologia são transformadas em força produtiva, diminuindo o trabalho humano e modificando as relações sociais. Para Severino (2006) a educação deve ser uma prática histórico-social, assumida por uma ótica ético-política, um movimento social marcado por construtividade e historicidade da prática humana, construída por ações que objetivam promover transformações tanto individuais quanto sociais. Sendo prática histórico-social, seus fenômenos de natureza política e educacional não se determinam de maneira técnica e mecânica, ocorrem no fluxo da construção histórica e, nesse contexto, a prática educativa se revela como modalidade de trabalho prática e política desse universo simbólico da existência humana.
A revolução tecnológica segundo Libâneo (2003) se apoia na tríade revolucionária: microeletrônica; microbiologia; energia termonuclear. Tal tríade indica os caminhos do conhecimento e as perspectivas do desenvolvimento da humanidade. Libâneo (2003) explicita os aspectos das três revoluções industriais ocorridas na história da humanidade. A primeira revolução ocorreu na segunda metade do século XVIII, caracterizando com o processo de industrialização e com a substituição da produção artesanal, provocando a evolução da tecnologia e o aumento da mercadoria, a ampliação do capital, à divisão de classes, o trabalho assalariado.
A segunda revolução aconteceu no século XIX ao surgir à indústria química, o petróleo e principalmente os meios de transporte e comunicação, modificando o sistema de produção em massa, implicando no aumento da produção e eliminação de desperdícios, no controle do tempo dos trabalhadores, a fragmentação e individualização de tarefas, intensificando a técnica e padronização.
Já na terceira revolução, denominada como científica iniciada no século XX, pautada na microeletrônica, na robótica, informática, produção de sintético, fibras óticas e chips, um grande avanço e aperfeiçoamento dos meios de comunicação. A revolução da microbiologia, o conhecimento genético dos seres vivos permitiu a produção de plantas e aperfeiçoamento na produção de animais para combater a fome, a luta pela cura e eliminação das doenças e, em outros aspectos ocorre o risco frequente da produção artificial de seres humanos, a criação de vírus artificiais e a ameaça de guerras bacteriológicas. A microeletrônica, o uso pessoal de objetos facilitadores e modificadores de hábitos da vida cotidiana, em especial o computador. A revolução informacional, o mundo interconectado a modificação de hábitos, cultura, necessidades sociais, a intensificação da individualização.
Para Severino (2006) o homem está em constante transformação, ele constrói com sua prática, com seu modo de ser, se relacionando com a natureza por meio do trabalho, com seus iguais nos processos sociais, com sua subjetividade por meio da vivência cultural simbólica em uma prática intencional e subjetiva. É o conhecimento que possibilita ao homem sua existência histórica, adquirido de forma intencional, planejada e formal na escola, e de maneira informal nas relações sociais. A educação na perspectiva de Severino (2006) é um instrumento de formação e vivência de conceitos e valores, além de ser ferramenta de preparação para o trabalho, uma vez que o conhecimento é que direciona as referências necessárias para a prática produtiva, para a política e para a prática cultural.
O praticar humano não é mecânico e transitivo, como ocorre com os outros seres naturais, é sim uma ação que se reveste de intencionalidade e com sentido vinculado a objetivos e fins historicamente apresentados, o que implica além de uma referência cognitiva, um referencial valorativo subjetivo, daí a indispensabilidade do referencial ético do agir e do relacionamento explícito entre ética e educação.
Nessa esfera subjetiva, o homem possui uma moral que o possibilita conviver em sociedade, direciona suas ações, delimita o que é certo e o que é errado, são valores que pontuam a seu agir, sendo alguns impostos pelo seu meio sócio-cultural. Ao optar por alternativas utilizando sua consciência o homem representa o seu meio mediante a formação de conceitos, que por sua vez são objetos de estudo da ética. Porém como determinar a importância destes valores e como embasar o referencial valorativo da consciência moral? O próprio homem é o valor em sua condição primária de existência, ou seja, sua historicidade, incompletude, corporeidade e finitude, portanto o master dos valores morais é o valor da dignidade da existência humana, é pela qualidade deste existir que se pode traçar o quadro referencial valorativo que defina o sentido do agir social de cada indivíduo.
Para Coêlho (2006) são consentidas em plano subsidiário e inferior as atividades de ensino e análise que, nos diversos campos do saber e do procedimento humano, não visam o prático, o utilitário, a solução de problemas específicos, sobretudo das humanidades ao que se refere da existência humana e de suas criações, no plano dos indivíduos, da sociedade. Ressalta também que, a universidade tem se afastado da busca de seu ser e manifesto pouco mérito em perguntar por sua natureza, ou seja, os saberes práticos produzidos, vão em prol a objetivos imediatos do Estado, das empresas e de grupos.
Ao refletirmos sobre as considerações de Libâneo (2003) e Severino (2006) acerca da educação escolar na contemporaneidade podemos observar que os dois autores abordam a questão das transformações sociais ligadas também a uma transformação na subjetividade humana. Ou seja, para os mesmos é preciso ter a compreensão de que o agir humano é transformado e transforma as relações em um processo histórico social, cultural e político.
           As transformações técnico-científicas ocasionam uma reviravolta na vida do trabalhador em sociedade, uma vez que, assumem o papel de força produtiva ocasionando uma diminuição do trabalho humano. Esta realidade força os indivíduos a se submeterem a uma corrida por formação técnica e geral, que por sua vez, incha o mercado com profissionais em determinadas áreas consideradas mais acessíveis ao mercado de trabalho, ocasionando um processo de competitividade, em que, a exigência de ser o melhor é cada vez mais severa.
           A competitividade que permeia as relações educacionais e trabalhistas está diretamente ligada ao que Severino (2006) pontua como uma “exacerbada valorização de uma suposta autonomia e suficiência do sujeito individual” (p.305). Ou seja, o sujeito é forçado, pela lógica do mercado, a acreditar que seu esforço pessoal para ser o melhor é passaporte para o sucesso nas relações sociais.
Para Coêlho (2006) a universidade tem se preocupado em ser espaço de profissionalização dos alunos para a incubação no mercado de trabalho, o mundo da produção, dos serviços e do consumo, ou seja, formar funcionários para o Estado. Uma vez que, privilegiar esta profissionalização dos alunos no ensino superior é receber os objetivos dos mecanismos internacionais na área da educação, que está constituído no mundo da produção e do trabalho. Sendo assim, assume a lógica da competitividade, nas demandas imediatas e favoráveis, no aprender a fazer, a operar a natureza e a sociedade, negando no próprio ser, sua identidade, seu caráter ético, transformando pessoa em coisa. Em vez de centrar-se na formação de seres humanos que reflitam a realidade e a recriem em geral, a formação profissional não vai além da preparação de especialista, de técnicos para o caráter mercadológico.  
          É em relação a esse apelo social, de sujeitos bem preparados para o mercado capitalista, que a educação se vê sobrecarregada por uma exigência de eficiência que, impulsiona uma corrida de gestores, professores, pais e alunos, por uma preparação para processos avaliativos e seletivos que, cada vez mais passam a ser o foco do ensino tanto na esfera privada quanto na pública. Nesta perspectiva, o desenvolvimento da sensibilidade ética e estética fica prejudicado.
           Compartilhando da ideia de Severino (2006) fica evidente que o sentido da existência humana, frente às transformações no seio da sociedade, fica ofuscado pela ideologia dominante. A ética, frente a esta realidade, entra em crise dada a inversão de valores que o modelo capitalista imprime à subjetividade humana.  Severino (2006) enfatiza que a educação só se legitima quando há um investimento para a construção da cidadania, que pode ser compreendida como melhores condições de trabalho, da sociabilidade e da cultura.
          A educação deve sim superar o amadorismo e preparar para a nova realidade social, política e econômica. No entanto, deve pautar-se na busca da construção de uma sociedade mais justa, em que o respeito à cidadania e os valores morais façam parte dos objetivos educacionais. Neste contexto, Coêlho (2006) afirma que, não é fácil pensar e lutar para criar uma nova sociedade e outra educação, visto que a corrupção, a prepotência e o desrespeito ao direito e a tudo o que é público, e constitutivo da existência coletiva permeiam a vida social, os poderes da República, em nível Municipal, Estadual e Federal.  
REFERÊNCIAS:
GUIMARÃES, Valter Soares (orgs.). Formar para o mercado ou para a autonomia?: O papel da universidade. Campinas, SP: Papirus, 2006, p. 43-63.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estruturação e organização. São Paulo: Cortez, 2003, p. 59-70.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Fundamentos ético-políticos da educação no Brasil de hoje. In: Lima, Júlio César França (org.) Fundamentos da educação escolar do Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, EPSJV, 2006, p. 291-195.


Roselaine Monteiro dos Santos.

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