A
contemporaneidade está sendo marcada pelas constantes transformações
técnico-científicas, denominadas também de Terceira Revolução Industrial.
Libâneo (2003) afirma que as mudanças econômicas, sociais, políticas, culturais
e educacionais são consequências da grande aceleração das transformações
técnico-científicas.
Ciência
e tecnologia são transformadas em força produtiva, diminuindo o trabalho humano
e modificando as relações sociais. Para Severino (2006) a educação deve ser uma
prática histórico-social, assumida por uma ótica ético-política, um movimento
social marcado por construtividade e historicidade da prática humana,
construída por ações que objetivam promover transformações tanto individuais
quanto sociais. Sendo prática histórico-social, seus fenômenos de natureza
política e educacional não se determinam de maneira técnica e mecânica, ocorrem
no fluxo da construção histórica e, nesse contexto, a prática educativa se
revela como modalidade de trabalho prática e política desse universo simbólico
da existência humana.
A
revolução tecnológica segundo Libâneo (2003) se apoia na tríade revolucionária:
microeletrônica; microbiologia; energia termonuclear. Tal tríade indica os
caminhos do conhecimento e as perspectivas do desenvolvimento da humanidade.
Libâneo (2003) explicita os aspectos das três revoluções industriais ocorridas
na história da humanidade. A primeira revolução ocorreu na segunda metade do
século XVIII, caracterizando com o processo de industrialização e com a substituição
da produção artesanal, provocando a evolução da tecnologia e o aumento da
mercadoria, a ampliação do capital, à divisão de classes, o trabalho
assalariado.
A
segunda revolução aconteceu no século XIX ao surgir à indústria química, o
petróleo e principalmente os meios de transporte e comunicação, modificando o
sistema de produção em massa, implicando no aumento da produção e eliminação de
desperdícios, no controle do tempo dos trabalhadores, a fragmentação e
individualização de tarefas, intensificando a técnica e padronização.
Já
na terceira revolução, denominada como científica iniciada no século XX,
pautada na microeletrônica, na robótica, informática, produção de sintético,
fibras óticas e chips, um grande avanço e aperfeiçoamento dos meios de
comunicação. A revolução da microbiologia, o conhecimento genético dos seres
vivos permitiu a produção de plantas e aperfeiçoamento na produção de animais
para combater a fome, a luta pela cura e eliminação das doenças e, em outros
aspectos ocorre o risco frequente da produção artificial de seres humanos, a
criação de vírus artificiais e a ameaça de guerras bacteriológicas. A
microeletrônica, o uso pessoal de objetos facilitadores e modificadores de
hábitos da vida cotidiana, em especial o computador. A revolução informacional,
o mundo interconectado a modificação de hábitos, cultura, necessidades sociais,
a intensificação da individualização.
Para
Severino (2006) o homem está em constante transformação, ele constrói com sua
prática, com seu modo de ser, se relacionando com a natureza por meio do
trabalho, com seus iguais nos processos sociais, com sua subjetividade por meio
da vivência cultural simbólica em uma prática intencional e subjetiva. É o
conhecimento que possibilita ao homem sua existência histórica, adquirido de
forma intencional, planejada e formal na escola, e de maneira informal nas
relações sociais. A educação na perspectiva de Severino (2006) é um instrumento
de formação e vivência de conceitos e valores, além de ser ferramenta de
preparação para o trabalho, uma vez que o conhecimento é que direciona as
referências necessárias para a prática produtiva, para a política e para a
prática cultural.
O
praticar humano não é mecânico e transitivo, como ocorre com os outros seres
naturais, é sim uma ação que se reveste de intencionalidade e com sentido
vinculado a objetivos e fins historicamente apresentados, o que implica além de
uma referência cognitiva, um referencial valorativo subjetivo, daí a
indispensabilidade do referencial ético do agir e do relacionamento explícito
entre ética e educação.
Nessa
esfera subjetiva, o homem possui uma moral que o possibilita conviver em
sociedade, direciona suas ações, delimita o que é certo e o que é errado, são
valores que pontuam a seu agir, sendo alguns impostos pelo seu meio
sócio-cultural. Ao optar por alternativas utilizando sua consciência o homem
representa o seu meio mediante a formação de conceitos, que por sua vez são
objetos de estudo da ética. Porém como determinar a importância destes valores
e como embasar o referencial valorativo da consciência moral? O próprio homem é
o valor em sua condição primária de existência, ou seja, sua historicidade,
incompletude, corporeidade e finitude, portanto o master dos valores morais é o
valor da dignidade da existência humana, é pela qualidade deste existir que se
pode traçar o quadro referencial valorativo que defina o sentido do agir social
de cada indivíduo.
Para
Coêlho (2006) são consentidas em plano subsidiário e inferior as atividades de
ensino e análise que, nos diversos campos do saber e do procedimento humano,
não visam o prático, o utilitário, a solução de problemas específicos,
sobretudo das humanidades ao que se refere da existência humana e de suas
criações, no plano dos indivíduos, da sociedade. Ressalta também que, a
universidade tem se afastado da busca de seu ser e manifesto pouco mérito em
perguntar por sua natureza, ou seja, os saberes práticos produzidos, vão em
prol a objetivos imediatos do Estado, das empresas e de grupos.
Ao
refletirmos sobre as considerações de Libâneo (2003) e Severino (2006) acerca
da educação escolar na contemporaneidade podemos observar que os dois autores
abordam a questão das transformações sociais ligadas também a uma transformação
na subjetividade humana. Ou seja, para os mesmos é preciso ter a compreensão de
que o agir humano é transformado e transforma as relações em um processo
histórico social, cultural e político.
As transformações
técnico-científicas ocasionam uma reviravolta na vida do trabalhador em
sociedade, uma vez que, assumem o papel de força produtiva ocasionando uma
diminuição do trabalho humano. Esta realidade força os indivíduos a se
submeterem a uma corrida por formação técnica e geral, que por sua vez, incha o
mercado com profissionais em determinadas áreas consideradas mais acessíveis ao
mercado de trabalho, ocasionando um processo de competitividade, em que, a
exigência de ser o melhor é cada vez mais severa.
A competitividade que permeia as
relações educacionais e trabalhistas está diretamente ligada ao que Severino
(2006) pontua como uma “exacerbada valorização de uma suposta autonomia e suficiência
do sujeito individual” (p.305). Ou seja, o sujeito é forçado, pela lógica do
mercado, a acreditar que seu esforço pessoal para ser o melhor é passaporte
para o sucesso nas relações sociais.
Para
Coêlho (2006) a universidade tem se preocupado em ser espaço de
profissionalização dos alunos para a incubação no mercado de trabalho, o mundo
da produção, dos serviços e do consumo, ou seja, formar funcionários para o
Estado. Uma vez que, privilegiar esta profissionalização dos alunos no ensino
superior é receber os objetivos dos mecanismos internacionais na área da
educação, que está constituído no mundo da produção e do trabalho. Sendo assim,
assume a lógica da competitividade, nas demandas imediatas e favoráveis, no
aprender a fazer, a operar a natureza e a sociedade, negando no próprio ser,
sua identidade, seu caráter ético, transformando pessoa em coisa. Em vez de
centrar-se na formação de seres humanos que reflitam a realidade e a recriem em
geral, a formação profissional não vai além da preparação de especialista, de
técnicos para o caráter mercadológico.
É em relação a esse apelo social, de
sujeitos bem preparados para o mercado capitalista, que a educação se vê
sobrecarregada por uma exigência de eficiência que, impulsiona uma corrida de
gestores, professores, pais e alunos, por uma preparação para processos avaliativos
e seletivos que, cada vez mais passam a ser o foco do ensino tanto na esfera
privada quanto na pública. Nesta perspectiva, o desenvolvimento da
sensibilidade ética e estética fica prejudicado.
Compartilhando da ideia de Severino
(2006) fica evidente que o sentido da existência humana, frente às
transformações no seio da sociedade, fica ofuscado pela ideologia dominante. A
ética, frente a esta realidade, entra em crise dada a inversão de valores que o
modelo capitalista imprime à subjetividade humana. Severino (2006) enfatiza que a educação só se
legitima quando há um investimento para a construção da cidadania, que pode ser
compreendida como melhores condições de trabalho, da sociabilidade e da
cultura.
A educação deve sim superar o
amadorismo e preparar para a nova realidade social, política e econômica. No
entanto, deve pautar-se na busca da construção de uma sociedade mais justa, em
que o respeito à cidadania e os valores morais façam parte dos objetivos
educacionais. Neste contexto, Coêlho (2006) afirma que, não é fácil pensar e
lutar para criar uma nova sociedade e outra educação, visto que a corrupção, a
prepotência e o desrespeito ao direito e a tudo o que é público, e constitutivo
da existência coletiva permeiam a vida social, os poderes da República, em
nível Municipal, Estadual e Federal.
REFERÊNCIAS:
GUIMARÃES, Valter Soares (orgs.). Formar para o mercado ou para a autonomia?:
O papel da universidade. Campinas, SP: Papirus, 2006, p. 43-63.
LIBÂNEO, José Carlos;
OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estruturação e organização. São Paulo:
Cortez, 2003, p. 59-70.
SEVERINO, Antônio
Joaquim. Fundamentos ético-políticos da educação no Brasil de hoje. In: Lima,
Júlio César França (org.) Fundamentos da
educação escolar do Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
EPSJV, 2006, p. 291-195.
Roselaine Monteiro dos Santos.
Texto bem esclarecedor e de fácil intendimento.
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